Java

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O Nosso Cantinho Favorito - Alexandria Peterhof

O chalet de Alexandria Peterhof no tempo de Nicolau I
A propriedade que o czar Alexandre I ofereceu à grã-duquesa Alexandra Feodorovna quando ela estava a sofrer com as saudades que sentia de Berlim foi um presente generoso: 115 hectares de floresta na costa do Golfo da Finlândia, a este do grande parque de Peterhof. Pedro, o Grande tinha oferecido estas terras ao príncipe Alexandre Menshikov, que  nelas construiu um palácio de pedra chamado "Moncourage". No século XVIII, a sobrinha de Pedro, a czarina Ana Ivanovna, voltou a comprar as terras para a coroa e utilizou-as para a caça. Em 1828, com o novo nome de "Alexandria Peterhof", em honra da sua nova proprietária, o parque tornou-se um recreio de verão, com um sentimento especial para todas as gerações de descendentes do czar Nicolau I e da czarina Alexandra, até à queda da dinastia.

O chalet de Alexandria Peterhof nos dias de hoje
Alexandre não podia ter escolhido nem um local nem um presente melhor. A sua cunhada ficou encantada com Peterhof quando visitou o local pela primeira vez ainda como noiva do grão-duque Nicolau Pavlovich no verão de 1817: "quando encontrei o mar, as árvores antigas perto da costa, e todas as fontes do jardim, dei gritinhos de felicidade", recordaria ela mais tarde, "fiquei verdadeiramente encantada". Mas Alexandra achava que o Grande Palácio de Peterhof era demasiado grandioso, com os seus interiores luxuosos e quilómetros de talha dourada que faziam doer os olhos. Para a agradar, o seu marido contratou o arquitecto inglês Adam Menelaus para construir uma casa em estilo gótico, que estava muito em voga na época, e que não se parecia em nada com os outros palácios dos Romanov. O "Chalet" foi construído em cima de uma colina, com árvores em três lados e uma vista magnifica do mar e para a base naval de Kronstadt.

O novo palácio de Alexandria Peterhof
A partir do momento em que ficou concluído em 1829, o chalet tornou-se uma casa de família, com espaço suficiente apenas para Nicolau, Alexandra, os seus filhos e dois criados. Tinha um jardim particular e, à sua volta, o parque tinha sido modelado cuidadosamente, com vários edifícios mais pequenos, casas de verão e follies, alguns dos quais tinham um objectivo prático e serviam de casa para os empregados, mas outros foram construídos por motivos puramente estéticos. Menelaus construiu uma casinha em estilo gótico, a chamada "Quinta", perto do chalet, que tinha salas de aula extra para as crianças imperiais, e a família tinha também uma capela imperial dedicada a São Alexandre Nevsky. A capela foi também construída em estilo gótico, quase como se se tratasse de um pedaço de uma das grandes catedrais europeias que foi colocado no parque.

A capela gótica em Alexandria Peterhof
O poeta Zhukovsky, que ensinou Alexandra a falar russo quando ela chegou à Rússia, criou um emblema único para Alexandria Peterhof: um escudo rodeado por uma coroa de rosas com uma espada no centro. O objectivo era representar Nicolau e Alexandra e o amor que tinha sido sempre constante desde o seu primeiro encontro. O emblema foi utilizado para decorar as paredes exteriores do chalet e surge também em mobílias e outros artigos mais pequenos encomendados para a casa. Havia bandeiras com o emblema hasteadas no telhado de todos os edifícios do parque, e as gerações posteriores viam-no como um símbolo romântico. Havia histórias na família de que o emblema tinha sido criado para comemorar o primeiro encontro do casal imperial em Berlim, no final das Guerras Napoleónicas, quando se realizou um torneio no qual Nicolau participou em nome do irmão, o czar. Segundo esta história, a filha do rei da Prússia atirou-lhe uma coroa de rosas brancas e ele apanhou-o com a sua espada. Os torneios estavam na moda na altura, por isso é possível que a história tenha mesmo um fundo de verdade, mas, independentemente das suas origens, os torneios medievais tornaram-se parte da mitologia de Alexandria Peterhof.

Imagem comemorativa do noivado da princesa Carlota da Prússia e do grão-duque Nicolau Pavlovich
O parque era o santuário do casal imperial, no qual se podiam isolar da vida pública que nunca desejaram e passar mais tempo com os seus filhos. Mas, inevitavelmente, o mundo exterior começou a intrometer-se. O chalet tornou-se demasiado pequeno para receber o czar e todos os seus deveres oficiais. Em 1842, foram acrescentados uma sala de jantar e um terraço, apesar de Nicolau se ter arrependido mais tarde de o fazer, uma vez que continuava a defender a ideia de que aquela era apenas uma simples casa de família. No verão de 1846, um casal de ingleses com o apelido de Bloomfield foram convidados para jantar e ficaram sensibilizados com o toque de intimidade que havia no local: "nada poderia ser menos formal e agradável do que o jantar", recordou a senhora Bloomfield, "suas majestades conversaram bastante e, durante o jantar, os dois filhos mais velhos do czarevich e os seus dois primos, os filhos da grã-duquesa Maria Nikolaevna, entraram na sala e ficaram a brincar. Foi encantador ver como o imperador e a imperatriz interagiam com os filhos e os netos; foram muito gentis e afectuosos, e os pequeninos foram do mais alegre e brincalhão que se pode imaginar (...) Quando acabámos de jantar, e nos dirigimos para a sala-de-estar, a imperatriz disse que tinha de queria ser ela a mostrar-me os seus aposentos privados. Levou-me a ver a salinha dela, o quarto e o quarto-de-vestir e depois fomos até ao jardim".

A imperatriz Alexandra Feodorovna (Carlota da Prússia)
As divisões do challet eram pequenas - quando comparadas com as dos palácios - e coloridas, decoradas com pequenos ornamentos e retratos da família. No sótão, Nicolau tinha um escritório com uma vista magnífica para o mar e passava lá muitas horas a assistir às manobras da marinha. Em 1833, Nicolau tinha mandado instalar uma torre de madeira com um telégrafo óptico na costa que lhe permitia comandar os seus navios e comunicar com a base em Kronsdadt. Apesar de a base ser visível no challet, o czar preferia sentar-se na torre: com o passar do tempo, foram-se construindo divisões na torre para que Alexandra e o resto da família se pudessem juntar a ele para tomar chá. O telégrafo óptico transformou-se noutro pavilhão do parque. No verão de 1854, a sombra da Guerra da Crimeia chegou a Peterhof. "Durante vários dias, foi possível ver claramente toda a frota inimiga a partir da varanda do challet", contou o czarevich Alexandre à sua tia Helena.

Nicolau e Alexandra (na carruagem) em frente ao challet de Alexandria Peterhof.
À medida que os quatro filhos do czar foram crescendo, foram recebendo as suas próprias dachas em Alexandria: a Quinta foi aumentada para servir de residência de verão do czarevich Alexandre, que se casou em 1841, enquanto que Constantino recebeu uma dacha conhecida como a "Casa do Almirante" (desde muito cedo que foi decidido que o futuro de Constantino seria na Marinha). Nicolau e Miguel mudaram-se para as "Casas da Cavalaria". Depois de se casarem, todos os três irmãos mais novos compraram propriedades para si em Peterhof e encomendaram emblemas baseados no escudo de Alexandria. Cada um deles representava os seus deveres regimentais: o de Constantino tinha uma âncora rodeada de rosas, o de Nicolau tinha dois machados cruzados, que representavam o regimento dos pioneiros, e o de Miguel tinha uma arma da artilharia. Estes emblemas foram utilizados em Strelna, Znamenka e Mikhailovskoe respectivamente, mas a linha principal da família manteve-se fiel à sua espada. Alexandra Feodorovna começou a dizer, de forma bastante pessimista, que o challet se tinha tornado demasiado grande para ela e para o marido depois de os filhos crescerem e começarem as suas vidas.

Nicolau I (centro) com os seus quatro filhos: Alexandre, Miguel, Nicolau e Constantino
Após a morte de Nicolau I, o Parque de Alexandria continuou a pertencer a Alexandra e não passou para a nova czarina, a sua nora Maria Alexandrovna. Alexandra continuou a utilizar o challet, mas a parte mais importante do parque passou a ser a Quinta, que se tinha tornado na residência de verão do novo czar. Maria Alexandrovna herdou o parque após a morte da sua sogra, mas o challet ficou abandonado com as suas memórias até o seu filho mais velho, o czarevich Nicolau, ter idade suficiente para precisar de uma casa própria. Infelizmente, a sua presença foi demasiado curta: após a sua morte em 1865, o edifício passou para o seu irmão Alexandre.

Alexandra Feodorovna nos seus últimos anos de vida.
A Quinta tinha um estilo semelhante ao do challet, mas era muito maior. Os seus exteriores eram percorridos de varandas suportadas por colunas de metal, que eram camufladas e pintadas para se parecerem com bétulas. A maioria dos quartos do andar superior tinha varandas viradas para o jardim, com toldos às riscas para as abrigar do sol, e as paredes exteriores eram pintadas de amarelo com o emblema de Alexandria Peterhof pintada em cada um das arestas mais altas do telhado. Os retratos de finais da década de 1850, mostram que havia uma casa de brincar no jardim, com a forma de uma cabana campestre tradicional.

A Quinta de Alexandria Peterhof, com a casa de brincar à esquerda.
Por dentro, a Quinta tinha muita luz, era arejada, moderna e criada para proporcionar conforto. No seu grande hall de entrada, as paredes amarelas estavam cobertas de gravuras e havia uma grande janela saliente coberta de cortinas de renda. Uma escadaria simples e curvada com um balaústre de ferro levava até ao andar superior e havia cadeiras de madeira simples encostadas por todas as paredes. Maria Alexandrovna coleccionava ornamentos de vidro e expunha algumas das suas peças favoritas na sua salinha na Quinta. Esta era uma divisão muito feminina, com as paredes decoradas com papel de parede às flores lilases e verdes, cores que eram repetidas num padrão desenhado até ao tecto e acima da janela saliente. Havia bimbos cobertos de era que separavam a janela, a mesa e as cadeiras do resto da divisão, na qual a czarina tinha a sua cama para sestas durante o dia. O escritório do marido, onde ele tratou de algumas das reformas mais importantes do novo reinado, era dominado por tons azuis fortes, tapetes e estofos. Havia um grande retrato de Nicolau I, em frente do challet, do outro lado da secretária do filho, que estava sempre a observar.

A salinha da imperatriz Maria Alexandrovna
Na década de 1870, havia novamente crianças a passar o verão no Challet, e uma nova geração estava a aprender a gostar de Alexandria Peterhof. O filho mais velho de Alexandre II, Alexandre Alexandrovich, a sua esposa dinamarquesa, Maria Feodorovna, e os seus filhos deram uma nova vida à casa. Os seus filhos adoravam as varandas e as escadarias, e todos os cantos que eram completamente diferentes de tudo aquilo que estavam habituados a encontrar nos palácios maiores. Na maioria dos dias, os dois rapazes mais velhos, Nicolau e Jorge, iam visitar o avô à Quinta e brincavam no seu escritório enquanto ele trabalhava. O jovem Nicolau recordava com carinho um dia em que tinha ido às Vespertinas com o avô na Capela Gótica. Enquanto lá estavam, rebentou uma forte tempestade, o céu ficou escuro e parecia que a capela tremia com o vento e os trovões. "As rajadas de vento que vinham das portas abertas faziam com que as chamas os círios que ardiam debaixo dos ícones vibrassem com violência. Houve alguns trovões mais fortes do que os outros e, subitamente, vi uma bola de fogo a entrar por uma das janelas e a passar mesmo por cima da cabeça do imperador. Rodopiou pelo chão, passou ao lado de um candelabro e, tão depressa como entrou, saiu pela porta para o parque. Não me conseguia mexer. Olhei para o meu avô. O rosto dele estava calmo e não parecia perturbado. Fez o sinal da cruz calmamente, sem se mexer um milimetro quando a bola de fogo passou por cima da cabeça dele (...). Depois de a bola ter desaparecido, olhei novamente para o meu avô. Tinha um pequeno sorriso no rosto e acenou com a cabeça. O meu medo tinha passado (...) e a partir desse momento decidi que iria seguir sempre o exemplo de calma que o meu avô mostrou". Foi uma lição de coragem e fé de uma futura vítima de um ataque terrorista para outra.

Alexandre II com o seu neto Nicolau e a nora Maria Feodorovna.
A czarina Maria Alexandrovna morreu em 1880 e Alexandria Peterhof passou para Maria Feodorovna, que estava destinada a ser a última dona imperial do parque. Juntamente com o seu marido, o czar Alexandre III, continuou a utilizar o Challet como residência de verão e foi a vez de a Quinta passar a ser novamente o edifício secundário, utilizada ocasionalmente por um dos irmãos do czar ou outros convidados como casa de veraneio ou então como local de festas. Pouco depois de subir ao trono, Alexandre III reparou que o telégrafo óptico do seu avô se encontrava em mau estado. A torre original era apenas um edifício de madeira e estava a deteriorar-se devido aos ventos marítimos. Quando surgiu o telégrafo eléctrico, o óptico tinha caído em desuso, mas Alexandre decidiu que o objecto tinha importância histórica e pediu ao arquitecto Anthony Tomishko para construir novamente a torre em pedra. Terá dito que "será suficiente para os meus filhos", mas os primeiros a utilizar a torre foram a sua prima, a grã-duquesa Olga Nikolaevna, o marido dela, o rei Jorge I da Grécia e os seus filhos. Foi por causa disso que o edifício foi baptizado de "Villa Baboon", uma vez que "Baboon" era alcunha que o rei da Grécia tinha dado à sua filha mais velha, a princesa Alexandra da Grécia e Dinamarca.

Olga Constantinovna (sentada, ao centro), Jorge I da Grécia e os seus filhos (na primeira fila, a princesa Maria e o príncipe André e, atrás, os príncipes Nicolau, Constantino, a princesa Alexandra e o príncipe Jorge).
Foi na mesma altura que a villa passou a ser visitada por outro membro da família que teria um grande impacto na história dos Romanov. Em Junho de 1884, o irmão mais novo do czar, o grão-duque Sérgio Alexandrovich, casou-se com a princesa Isabel de Hesse-Darmstadt e, entre os convidados que ficaram alojados em Alexandria Peterhof antes e depois do casamento, encontrava-se a irmã de doze anos da noiva, a princesa Alix. O czarevich Nicolau que, na altura, tinha dezasseis anos de idade, descreveu os longos dias de verão no seu diário, incluindo pormenores sobre os jantares de família, os passeios e os jogos no jardim: "Fomos todos saltar durante algum tempo na rede (...) fui passear com o Ernie [Ernesto Luís de Hesse-Darmstadt] e com a Alix no feriado, e o papá foi a conduzir (...) brincámos muito nos baloiços. O papá ligou a mangueira e nós corremos na direcção do jato e ficámos todos molhados". Nicolau começava a interessar-se cada vez mais pela jovem Alix, e os dois cravaram os seus nomes, um à beira do outro, no vidro de umas das janelas da villa que tinha sido construída recentemente. Na altura, parecia tratar-se apenas de um romance infantil que seria rapidamente esquecido, mas, na verdade, o seu destino foi selado naquele verão.

Nicolau, Alexandra, Xenia e Maria Feodorovna em Alexandria Peterhof.
Quando Nicolau tinha idade suficiente para precisar de uma casa para si, implorou as pais para utilizar as divisões na torre e passou a partilhar a villa com o seu irmão mais novo, Jorge. Depois de subir ao trono e se casar com Alix em 1894, contratou Tomishko para aumentar o edifício e criar uma casa de verão para a família que esperava ter com a sua nova esposa. As obras demoraram muito tempo. Em inícios do verão de 1897, Alix deu à luz a sua segunda filha, Tatiana, na Quinta, onde ela e Nicolau ficaram hospedados enquanto o seu palácio estava em obras. O grão-duque Jorge escreveu uma carta ao irmão do Cáucaso a perguntar como estavam a correr as obras. "Quando é que a casa à beira-mar fica pronta? Estou curioso para ver como irá ficar e como ficará ligada à antiga. Estou sempre a pensar como era agradável quando vivíamos juntos. Já passaram sete anos desde essa altura, é assustador como o tempo voa". Na verdade, a nova casa de dois andares ficou unida à villa antiga através de uma galeria fechada por cima de um arco grande o suficiente para deixar passar uma carruagem ou um carro. Foram acrescentadas cozinhas e casas-de-banho, mas o edifício continuou a ser dominado pela grande torre com a bandeira de Alexandria Peterhof a esvoaçar no cimo. Havia uma pequena estrada que percorria a costa até ao Portão Marítimo, na fronteira oeste do parque, que unia os jardins da propriedade dos Mikhailovich em Znamenka.

A torre do Novo Palácio de Alexandria Peterhof no tempo de Nicolau II.
O centro da vida em Alexandria Peterhof voltou a mudar e, apesar de a mãe do czar continuar a ser a dona do parque e utilizar o Challet durante o verão, o edifício mais importante durante os últimos anos da dinastia foi o "Novo Palácio" de Tomishko. Dentro das suas paredes, um novo Nicolau e uma nova Alexandra aprenderam a amar Alexandria e os seus três filhos mais novos, Maria, Anastásia e o czarevich Alexei, nasceram neste palácio à beira mar, onde, em tempos, o primeiro Nicolau tinha comandado a sua frota.

O Novo Palácio
O Novo Palácio era luminoso e confortável, e era visto mais como uma casa do que um palácio. A divisão preferida da família era o escritório de Nicolau II, no segundo andar do edifício antigo. As paredes tinham painéis de nogueira para combinarem com a secretária do czar, estofos de cabedal marroquino verde escuro que tinham sido encomendados em Inglaterra, e, apesar da decoração escura, a divisão estava sempre cheia de luz. Uma das janelas viradas para oeste e com vista para Kronstadt, tinha uma varanda com uma mesa que estava sempre cheia de jornais, revistas e livros. A secretária tinha sido colocada num ângulo ideal com as outras janelas, que tinham vista para norte, para o golfo. No seu escritório, Nicolau recebia os seus ministros e concedia audiências especiais: havia uma sala-de-espera que tinha sido criada para se parecer com uma divisão a bordo de um navio.

Alexei Nikolaevich e Luís Mountbatten em frente ao Novo Palácio de Alexandria Peterhof
No segundo andar da villa, a galeria coberta levava até ao novo edifício onde se encontravam os aposentos da czarina e da sua dama-de-companhia, assim como os quartos, quartos-de-brincar e salas-de-aula das crianças imperiais. A salinha da imperatriz tinha trabalhos em madeira pintada a branco, desenhos de flores nas paredes e cadeiras confortáveis forradas a cretone com um padrão de rosas. Os quartos das suas filhas eram decorados com papel de parede de Art Noveau, enquanto que a cor dominante no quarto de Alexei era o azul. Tudo era luminoso, moderno e criado com simplicidade e conforto. As gerações foram-se sucedendo umas às outras, mas Alexandria Peterhof foi sempre um santuário onde um casal imperial se podia isolar das pressões da vida pública e aproveitar tempo de qualidade com os seus filhos.

Anastásia, Tatiana e Alexei com alguns dos seus primos, filhos da grã-duquesa Xenia Alexandrovna, em Alexandria Peterhof.
No entanto, depois da Revolução, os portões de Alexandria abriram-se e o público teve acesso a este mundo que tinha sido seguro e privado. Em 1925, pagavam-se 15 kopecks para visitar o Challet e 15 para visitar a Quinta, mas a entrada para o Novo Palácio era mais cara: 25 kopecks. Os guias diziam que os edifícios não tinham qualquer valor artístico, à excepção de um retrato de Alexandre III pintado por Serov, mas o público sentia-se atraído pelo palácio devido à sua associação com o último czar e a sua família. Ainda era possível ver os seus objectos pessoais, e os brinquedos do czarevich ainda enchiam o berçário.

Olga, Maria, Anastásia e provavelmente um dos seus primos em Alexandria Peterhof.
Os guias também expressavam o repúdio que o regime sentia pela família imperial, mas surgiu uma nova geração de conservadores de museus que se apaixonou pelos palácios, devido à sua beleza e à história silenciosa que contavam. Quando surgiram notícias de que estava próxima uma invasão alemã em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, estes conservadores fizeram todos os possíveis para salvar o que podiam dos exércitos que se aproximavam da cidade. O Grande Palácio de Peterhof foi a sua prioridade, mas quatro quintos dos objectos registados no Challet e outras peças da Quinta e do Novo Palácio foram embalados em caixas e levados numa viagem perigosa para a Sibéria, juntamente com outras colecções de outros palácios fora da cidade. Os conservadores continuaram a empacotar objectos até ao último minuto, quando já se ouviam os sons da batalha no parque. Durante quase três anos, os conservadores guardaram os seus tesouros e esperaram até ao final de 1944, quando souberam da libertação de Peterhof, para regressar. Quando a notícia foi confirmada, abriram uma das caixas preciosas e fizeram um brinde à libertação com os copos de cristal feitos para o Challet, decorados com a espada e a coroa de rosas.

Anastásia, Alexandra Feodorovna e Maria na varanda do Novo Palácio de Alexandria Peterhof
Aquilo que viram quando regressaram foi doloroso. Uma vez que não tinham conseguido conquistar Leningrado, como vingança, os alemães decidiram destruir os antigos palácios imperiais e quase conseguiram fazê-lo com todos. O Grande Palácio foi queimado quase por completo e o parque tinha sido minado. O Challet foi saqueado e destruído e a Quinta foi utilizada como quartel-general local dos alemães. O Novo Palácio, mesmo à beira mar, tornou-se no alvo ideal para ataques a partir do mar. Os soviéticos destruíram o pouco que restou dele na década de 1960.

O Grande Palácio de Peterhof após o ataque alemão na Segunda Guerra Mundial
Hoje em dia, o Challet está novamente aberto ao público depois um trabalho de restauro extraordinário, que foi completado em 1978. A maioria dos turistas que vai visitar o Grande Palácio, perde o Challet, que está escondido entre as árvores e só tem um caminho de acesso que não está assinalado. Mas perdem um tesouro. O edifício está praticamente igual ao que era em pintuas da década de 1840, apesar de as árvores estarem mais grossas e mais altas do ue eram na altura, algo que teria encantado a sua dona, Alexandra Feodorovna, que adorava estar sozinha. Os turistas começam a visita com uma pequena exposição naquele que era o quarto da primeira habitante do Challet. Durante o regime soviético, a lei não permitia que os quartos fossem restaurados como quartos; hoje em dia os guias referem estas estranhas curiosidades dos "dias maus". A exposição inclui algumas das aguarelas pintadas por Eduard Petrovich Hau durante o século XIX de como as divisões eram na época e que foram um guia imprescindível para as obras de restauro.

Alexei, Anastásia e Nicolau no Novo Palácio em Alexandria Peterhof
As divisões restauradas do Challet são coloridas e cheias de mobília, muito parecidas com Frogmore e Osborne em Inglaterra, ou até Hohenschwangau na Baviera, embora a casa tenha um charme próprio e a sua escadaria pintada seja magnífica. A maioria das decorações mantiveram o seu estilo gótico original, mas uma das divisões do andar de cima tem um certo aspecto de Art Nouveau, devido aos anos em que Maria Feodorovna passou lá os seus verões. O Challet é mais pessoal e caseiro do que qualquer um dos grandes palácios, com retratos de Nicolau I e da sua família e é possível ver o emblema da espada rodeada pela coroa de flores criado por Zhukovsky em todo o lado, desde as paredes até às varandas, passando pelas cadeiras e pelos copos de cristal.

Escritório de Alexandra Feodorovna na actualidade.
Além do Challet e do seu jardim, o Parque de Alexandria está finalmente a começar a acordar do seu longo sono. A Capela Gótica, onde o jovem Nicolau II aprendeu uma lição de coragem do seu avô, foi completamente restaurada e também já começaram as obras de restauro na Quinta. O edifício ainda se encontra encerrado e negligenciado, mas as árvores que cresceram à sua volta, e que o rodeiam quase como se se tratasse do castelo da Bela Adormecida, já desapareceram e, incrivelmente, após todo este tempo, continuam a haver pequenas lembranças do passado. Há um pequeno pavimento em mosaico, trabalhos decorativos em ferro forjado, que agora estão enferrujados e pendurados com ângulos estranhos. Ainda sobram alguns fragmentos da tinta amarela antiga agarrados às paredes e, resistente a todas as suas provações, ainda sobra um escudo com rosas na aresta mais alta do telhado. [Nota: as obras de restauro foram concluídas em 2010 e a Quinta já se encontra agora aberta ao público.]

Edifício da Quinta após o seu restauro. Fonte.
Dentro de algum tempo, a Quinta será restaurada. O Novo Palácio já não tem salvação possível, apesar de ser possível visitar as ruínas entre as árvores e arbustos à beira mar. É possível reconhecer algumas partes do edifício: a base da torre, o arque que chegou a unir o edifício novo e o edifício antigo, algumas aberturas que dantes eram portas e janelas, perdidas num monte de tijolos sem sentido - o palácio perdido que já foi colorido e luminoso, principalmente durante o verão. As fotografias dos filhos do último czar a brincar junto ao mar mostram que a linha costeira era delimitada por uma linha de pedras que ainda são visíveis, apesar de terem crescido corais à volta delas.

As irmãs Romanov nas traseiras do Novo Palácio
Este devia ser um local triste, mas não é. Em Czarskoe Selo, é fácil lembrar-nos do final trágico da dinastia. Num dia de verão em Alexandria Peterhof, o silêncio e o ar livre fazem lembrar as gerações que se divertiram no parque e das épocas em que foram felizes. A família de Nicolau I ainda é recordada visivelmente no Challet. Quando a Quinta estiver restaurada, a época de Alexandre II vai ganhar uma nova vida e nem a família de Nicolau II é esquecida. Em Agosto de 1994, para celebrar aquele que teria sido o 90.º aniversário do czarevich, foi inaugurada uma estátua em bronze dele, ao lado do Challet, num local onde, anteriormente, existia um memorial dedicado a Nicolau I, o seu bisavô. Num cenário que junta o início e o final da história de Alexandria Peterhof, o menino surge encostado a uma árvore, a observar as ruínas escondidas do Novo Palácio onde nasceu.

Alexei Nikolaevich com o Novo Palácio como pano de fundo
Texto retirado do livro "Romanov Autumn" de Charlotte Zeepvat

2 comentários:

  1. Não tenho ideias socialistas, mas
    pessoas darem palácios que não lhes
    pertencia dentro de uma estado de
    direito, é um escândalo. Tudo acabou um dia numa chacina covarde
    dos comunistas. Acabar deveria, mas
    jamais daquela forma.

    ResponderEliminar
  2. Não tenho ideias socialistas, mas
    pessoas darem palácios que não lhes
    pertencia dentro de uma estado de
    direito, é um escândalo. Tudo acabou um dia numa chacina covarde
    dos comunistas. Acabar deveria, mas
    jamais daquela forma.

    ResponderEliminar