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quarta-feira, 11 de março de 2015

Um Casamento Adequado - Terceira Parte


Um dos primeiros rebeldes da família foi o grão-duque Nicolau Constantinovich (em cima com os pais, o grão-duque Constantino Nikolaevich e a grã-duquesa Alexandra Iosifovna). Ignorando as tentativas da mãe de lhe arranjar uma noiva adequada, Nicolau gastou a sua fortuna nas suas amantes e na sua colecção de arte. Em 1874 já andava a roubar à própria família: quando se soube do que tinha feito, foi declarado louco, perdeu o seu título e foi colocado sob vigia, mas, para onde quer que fosse, arranjava problemas. Em 1874 e em 1876, uma mulher que não devia sequer ter-se aproximado dele ficou grávida com o seu filho. Em 1878, casou-se com outra mulher em segredo e sempre defendeu que devia haver uma revolução. Em termos oficiais, deixou de existir e, no verão de 1881, o czar Alexandre III enviou-o para o exílio e Tashkent. En 1895, apesar de ainda viver com a sua primeira esposa, casou-se com uma jovem de dezasseis anos cometendo uma bigamia que foi rapidamente anulada. Quando o visitou em 1904, a sua irmã Olga disse: "perdeu completamente qualquer sentido de moral entre o que pode ser feito e o que pode ser exigido". Mas havia outro lado em Nicolau. Interessou-se verdadeiramente pela Ásia Central e organizou expedições cientificas, publicando depois as suas descobertas. Em Tashkent lançou sistemas de irrigação e outros projectos benéficos. Recebeu bem a revolução e, quando morreu de infecção pulmonar em Abril de 1918, os bolcheviques da sua zona organizaram um grande funeral em sua honra na Catedral de Tashkent.


O grão-duque Miguel Mikhailovich chegou à idade adulta com muita vontade de se casar. Pediu a princesa Irene de Hesse-Darmstadt em casamento e 1886 e a princesa Luísa de Gales em 1887, achando que estava profundamente apaixonado em ambos os casos. No entanto, ambas recusaram o seu pedido. Em finais de 1887, apaixonou-se pela condessa Ignatiev, filha de um ministro do governo. O amor era correspondido, mas, depois de muita deliberação, o czar recusou ceder permissão para o casamento. Profundamente triste com a situação, Miguel iniciou uma viagem pela Europa e foi nessa altura que se apaixonou por Sofia, condessa de Merenberg (acima, ao centro). Casou-se com ela antes de alguém o conseguir impedir, uma acção que lhe custou o título e uma sentença de exílio perpétuo. A fotografia acima mostra o grão-duque com Sofia e a segunda filha do casal, Nádia, em 1896.


Quatro anos depois da morte da sua primeira esposa, o grão-duque Paulo Alexandrovich começou a ter um caso amoroso com Olga von Pistolkors, esposa do ajudante-de-campo do seu irmão, o grão-duque Vladimir. Quando ela deu à luz um filho de ambos e o czar se recusou a permitir o divórcio a Olga a não ser que o tio prometesse não se casar com ela, Paulo prometeu que não o faria, mas tinha todas as intenções de não cumprir o que tinha dito. Fugiu da Rússia, deixando os seus dois filhos legítimos para trás e casou-se em Itália. Por causa deste acto, foi banido da Rússia e os seus filhos foram colocados à guarda do irmão dele, o grão-duque Sérgio. Paulo tornou-se pai de uma segunda família. Na fotografia acima, tirada em 1906, Paulo surge no centro, com a sua filha Irina do lado direito, a esposa Olga logo a seguir com Natália ao colo e Vladimir na ponta. As outras pessoas são a mãe, irmã e filhas de Olga.


Em 1896, na coroação de Nicolau II, o grão-duque Cyrill Vladimirovich apaixonou-se pela sua prima Vitória Melita, segunda filha da grã-duquesa Maria Alexandrovna. O facto de ser sua prima direita seria suficiente para dificultar qualquer plano de casamento, mas a situação era ainda pior; ela era casada com o grão-duque Ernesto Luís de Hesse-Darmstadt. Mas o casamento em Hesse já não estava a atravessar uma boa fase e acabou em divórcio em 1901. Segundo Cyril, Vitória tomou essa decisão porque o amava. Ao longo dos anos seguintes, os dois viveram juntos quando podiam, apesar de os pedidos de Cyril para se casar serem sempre negados. O seu comportamento causou muito desconforto na família e os pais de Cyril fizeram os possíveis para acabar com a relação. A sua mãe até lhe pediu para ficar com Vitória como amante e encontrar outra princesa para se casar, pelo bem da sua posição. No outono de 1905, os dois casaram em segredo na Baviera. Quando Cyrill apareceu na Rússia, à espera de ser perdoado, o czar retirou-lhe os títulos e rendimentos e enviou-o para o exílio.


Cyrill e Vitória Melita mudaram-se para uma casa ao lado do palácio da mãe de Vitória Melita em Coburgo, onde nasceu a sua primeira filha, Maria, em Fevereiro de 1907. Nicolau II foi cedendo aos poucos, graças à pressão dos pais de Cyrill, e reconheceu o casamento pouco depois do nascimento de Maria, dando títulos adequados à mãe e à criança. Em 1908, permitiu que Cyrill regressasse à Rússia para assistir ao funeral do seu tio, o grão-duque Alexei Alexandrovich, e devolveu-lhe o seu título na marinha. Acabaria por ser este perdão que iria causar ressentimento entre o resto da família, mais ainda do que o castigo inicial. Em 1910, Cyril regressou à Rússia com a esposa e as duas filhas - a princesa Kira nasceu em 1909 - e a família estabeleceu-se em São Petersburgo. A fotografia acima foi tirada em Coburgo e mostra Cyrill a segurar a sua filha mais velha, Maria.


Nenhum dos irmãos de Cyrill estava disposto a cumprir as regras. Boris nunca se casou e tornou-se um conhecido playboy. No verão de 1901, os irmãos do grão-duque André Vladmirovich (acima) apresentaram-no à bailarina Mathilde Kschessinskaya que descreveu o momento da seguinte forma: "Ele era muito bonito e também muito tímido, o que não estragava as coisas de todo, bem pelo contrário! Durante o jantar, ele derrubou um copo de vinho acidentalmente e o conteúdo acabou por me sujar o vestido. Mas não fiquei nada zangada. Senti que era um bom presságio (...) A partir daquele momento, o meu coração transbordou com uma emoção que já não sentia há muito tempo". Desde o casamento e ascensão ao trono de Nicolau II que Mathilde vivia sob a protecção do seu primo, o grão-duque Sérgio Mikhailovich. A sociedade achava que os dois eram amantes, mas, nas suas memórias a bailarina diz apenas que tinha por ele um grande afecto e amizade. Quando descreveu o nascimento do seu filho no verão de 1902, na datcha que Sérgio lhe tinha comprado, Mathilde escreveu: "ele sabia perfeitamente que não era o pai da criança, mas amava-me e... perdoou-me tudo."


Matilde com o seu filho Vladimir, conhecido por "Vova". A relação entre Mathilde e André continuou, para grande irritação da grã-duquesa Maria Vladimirovna. O grão-duque Sérgio Mikhailovich também continuou a estar muito presente na vida dos dois.


Para Nicolau II, a desobediência mais dolorosa foi o casamento às escondidas do seu irmão mais novo, o grão-duque Miguel Alexandrovich (em cima). Miguel foi o herdeiro ao trono entre 1899 e 1904 e a saúde frágil do czarevich Alexei significava que esse posto lhe podia ser entregue novamente a qualquer momento. Não havia casamento mais vital para a continuidade da dinastia Romanov, mas, infelizmente, Migue apaixonava-se com demasiada facilidade. Em 1902, foi a irmã mais nova de Vitória Melita, a princesa Beatriz, que lhe chamou a atenção e ela também se apaixonou por ele. Os dois começaram a trocar correspondência, mas, em 1903, quando se levantou a hipótese de um casamento, o czar disse ao seu irmão que tal não seria possível, uma vez que Beatriz era sua prima direita. Miguel tentou romper o noivado, mas a sua atitude foi muito mal vista pela família dela, levando a uma zanga que durou até 1905. Mas, nessa altura, o grão-duque estava novamente apaixonado. Desta vez tratava-se de uma dama-de-companhia chamada Alexandra Kossikovskaya. Em 1906, Miguel pediu permissão para casar com ela. O seu irmão recusou e a mãe de ambos, Maria Feodorovna, fez com que a rapariga fosse discretamente enviada para longe do filho. Em 1907, Miguel planeou duas fugas para se casar com ela, mas ambas falharam.


Antes do final de 1907, surgiu uma terceira mulher na vida de Miguel. Natália Sheremetyevskaya era casada com um oficial do regimento do grão-duque, Vladimir Wulfert, que era já o seu segundo marido. Para ela, seduzir o grão-duque Miguel não passava de um jogo: seria possível conquistar o irmão do czar? Era possível e ela conseguiu. A relação tornou-se mais séria quando Wulfert a descobriu. Era um homem violento e, por isso, Miguel foi enviado para outro regimento, mas recusou-se a deixar Natália e o seu caso amoroso tornou-se um pesadelo para a corte. Em Julho de 1910, Natália deu à luz o filho de Miguel. No outono de 1912, com o czarevich à beira da morte, Miguel quebrou a promessa que tinha feito ao irmão e casou-se com Natália em segredo, em Viena. Foi muito honesto relativamente aos motivos que o levaram a tomar esta decisão: "Poderia nunca ter tomado esta medida se não fosse pela doença do pequeno Alexei e a ideia de que, como herdeiro do trono, poderia ser separado da Natália. Mas agora isso já não pode acontecer." Foi a razão mais cruel que poderia ter escolhido. Nicolau enviou-o para o exílio: a fotografia acima foi tirada durante esse período, em Inglaterra.

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