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segunda-feira, 2 de março de 2015

A Importância de um Herdeiro (Primeira Parte)

Alexei Nikolaevich
É importante compreender o que o nascimento de Alexei significou para a imperatriz Alexandra. O seu maior desejo após o casamento era o de presentear a autocracia russa com um herdeiro varão. Nos dez anos que se seguiram, tinha dado à luz quatro filhas, todas saudáveis, encantadoras e amadas, mas nenhuma delas poderia subir ao trono. A coroa russa já não podia passar pela linha feminina como tinha acontecido no caso das filhas de Pedro, o Grande e de Catarina, a Grande. O filho de Catarina, o czar Paulo, odiava a mãe e alterou as leis de sucessão de forma a que apenas os herdeiros varões pudessem herdar o trono. Assim, se Alexandra não desse à luz um filho, a linha de sucessão iria passar primeiro para o irmão mais novo de Nicolau II, o grão-duque Miguel, e, depois, para a família do seu tio, o grão-duque Vladimir. Sempre que Alexandra engravidava, rezava fervorosamente para que a criança fosse um rapaz. Em cada parto, parecia que as suas preces eram ignoradas. Quando nasceu Anastásia, a sua quarta filha, Nicolau teve de deixar o palácio e caminhar pelo parque para esquecer a sua desilusão antes de ver a esposa. Assim, o nascimento do czarevich significou muito mais para a sua mãe do que a chegada de qualquer criança. Este bebé era o ponto mais alto do seu casamento, o fruto das horas que passou a rezar, a bênção de Deus para ela, para o marido e para todo o povo russo.

Olga, Tatiana, Maria e Anastásia em Coburgo, por volta de 1902
Todos os que viam a imperatriz com o seu filho bebé durante os seus primeiros meses de vida ficavam impressionados com a sua felicidade. Com trinta-e-dois anos de idade, Alexandra era alta, continuava magra, com olhos azuis acinzentados e longos cabelos loiros arruivados. A criança que segurava nos braços parecia irradiar boa saúde. "Vi o czarevich nos braços da imperatriz," escreveu Anna Vyrubova. "Como era bonito, tão saudável, tão normal, com os seus cabelos doirados, os seus olhos azuis e a sua expressão que transmitia uma inteligência muito rara para uma criança daquela idade." Pierre Gilliard viu o seu futuro aluno pela primeira vez quando ele tinha dezoito meses. "Era visível que [Alexandra] transbordava de alegria. A alegria de uma mãe que tinha cumprido o seu maior desejo. Tinha orgulho e estava feliz com a beleza do seu filho. Não há duvida de que o czarevich era um dos bebés mais bonitos que se pode imaginar, com lindos caracóis loiros, grandes olhos acinzentados por baixo de grandes pestanas encaracoladas e com a cor rosada de uma criança saudável. Quando sorria, formavam-se duas covinhas nas suas bochechas gordas."

Alexei com as suas irmãs
Alexandra tinha esperado e rezado para ter um filho durante tanto tempo que a revelação de que Alexei sofria de hemofilia foi um golpe particularmente duro para ela. A partir daquele momento, passou a viver num mundo de sombras, reservado às mães de filhos hemofílicos.  Não existe maior tortura para qualquer mulher do que ver um filho adorado a sofrer dores extremas e não poder fazer nada para o ajudar. Alexis, tal como qualquer outra criança, procurava protecção na mãe. Em certa ocasião, quando uma hemorragia numa articulação lhe provocou dores lancinantes que apagaram tudo o resto da sua consciência, Alexei ainda conseguiu gritar: "Mamã, ajuda-me, ajuda-me!" Para Alexandra, sentada ao lado dele sem puder fazer nada para o ajudar, cada grito era como uma punhalada no coração.

Alexandra e Alexei
A incerteza da hemofilia era quase pior para Alexandra do que is episódios em si. Havia outras doenças crónicas que podiam deixar uma criança inválida e transtornar a sua mãe, mas, com o passar do tempo, ambos aprendiam a ajustar as suas vidas aos factos médicos. No entanto, na hemofilia, não existia um padrão. Num momento, Alexei podia estar a brincar, feliz e normal, e, no momento seguinte, podia desequilibrar-se e cair, dando início a mais uma hemorragia que o podia levar à morte. Podia surgir a qualquer momento em qualquer parte do corpo: na cabeça, no nariz, na boca, rins, articulações ou nos músculos. 

Alexandra com os seus filhos

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