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quarta-feira, 21 de março de 2012

Casar na Família (Parte 2)

Uma fotografia de Maria Feodorovna com os seus filhos Miguel e Xenia, provavelmente tirada depois da ascensão do seu marido ao trono na primavera de 1881. A família imperial tinha sido  muito alemã, tanto em personalidade como nas simpatias, durante séculos, mas a chegada de Maria Feodorovna, princesa Dagmar da Dinamarca, marcou uma mudança. O seu primeiro noivo, o czarevich Nicolau, afirmou firmemente que o casamento iria acontecer por ser esse o seu desejo e que não tinha qualquer implicação política. Apesar disso, a Prússia e a Dinamarca tinham declarado guerra pouco antes do noivado e a antipatia entre os dois países durou décadas. A diminuição  das simpatias prussianas na corte russa durante o reinado de Alexandre III deveu-se, em parte, à influência da sua esposa. Apesar da sua dedicação ao país do marido, Maria Feodorovna manteve-se muito dinamarquesa e deu sempre o seu melhor para promover os interesses dinamarqueses na Rússia.


Mas as simpatias alemãs continuaram na corte do irmão de Alexandre, o grão-duque Vladimir, visto aqui com a sua noiva, a duquesa Maria de Mecklenburg-Schwerin. Maria era trineta do czar Paulo I. Quando conheceu Vladimir em 1871, tinha dezassete anos e tinha acabado de ficar noiva, por escolha própria, de um príncipe alemão muito mais velho. Rompeu o noivado imediatamente, apesar de terem sido precisos três anos para assegurar o seu noivado com Vladimir. A atracção foi mútua, o problema era que Maria se recusava firmemente a converter-se à religião ortodoxa, um passo que era exigido a todas as noivas Romanov há várias gerações. As negociações duraram três anos. Depois, na primavera de 1874, Alexandre II cedeu e permitiu a formalização do noivado. Esta decisão não foi bem-vista na Rússia, principalmente entre as princesas que já tinham sido forçadas a converter-se. Marcou a chegada de uma jovem assertiva e confiante que se tornaria uma força formidável na família.


A grã-duquesa Maria Pavlovna, o nome de casada de Maria, com o seu segundo filho, o grão-duque Cyril Vladimirovich, cerca de 1878. Um primeiro filho, chamado Alexandre, tinha morrido em 1877, pouco antes de completar dois anos de idade. Maria Pavlovna adaptou-se maravilhosamente ao esplendor e à riqueza de São Petersburgo e não demorou muito a tornar-se o centro dos círculos mais elegantes. Todos aqueles que não eram aceites na corte imperial, mais tradicional, viravam-se naturalmente para ela. Maria gostava de ser o centro das atenções. Uma mulher com um charme infinito, tinha como principal talento guiar e aconselhar qualquer pessoa mais nova ou com menos experiência do que ela. Teria sido uma imperatriz magnifica, mas a sua personalidade fazia com que não conseguisse contentar-se com o segundo lugar mais importante para uma mulher na Rússia. Foi rival da sua cunhada Maria Feodorovna desde o início.


A princesa Isabel de Saxe-Altenburg tinha dezasseis anos no verão de 1882, quando o grão-duque Constantino Constantinovich visitou Altemburgo. Constantino tinha vinte-e-quatro anos e estava a recuperar de um desgosto amoroso, e a atracção entre os dois foi imediata. Mas enquanto Isabel não tinha dúvidas, Constantino agonizava. Era um homem profundamente introspectivo e passou um ano sem escrever a Isabel, ao contrário do que tinha prometido, apesar de escrever poemas sobre ela. Depois regressou para pedi-la em casamento. Em Abril de 1884, Isabel chegou à Rússia. Tinha escolhido manter a religião luterana. Esta decisão foi um duro golpe para Constantino devido à sua forte devoção ortodoxa. Para piorar a situação, Isabel ofendeu a corte quando se recusou a beijar cruz erguida durante a missa.

Os medos de Constantino voltaram a despertar, mas, na manhã do casamento, Isabel escreveu-lhe uma carta para o acalmar: "Prometo que nunca farei nada para te enfurecer ou magoar por causa das nossas religiões divididas (...). Só te posso dizer mais uma vez que te amo muito."


Constantino acalmou-se e levou a carta de Isabel no bolso o dia inteiro. Sobre a cerimónia ortodoxa escreveu: "Depois de ouvir as palavras 'Deus nosso Senhor, pela honra e pela glória, casa este casal!', vi a Isabel como minha esposa, que me é entregue para sempre e quem devo amar, cuidar e estimar. O momento no qual o padre nos conduziu ao altar foi especialmente solene para mim, senti-me leve e feliz (...). Eramos marido e mulher. Tivemos permissão para nos beijar. Depois dirigimo-nos a Sua Majestade, à czarina e aos meus pais. A cerimónia começou. O canto era maravilhoso. Caiu-me uma pedra do coração."

As fotos de casamentos da família imperial no século XIX são raras, mas esta mostra Isabel, a grã-duquesa Isabel Mavrikievna, no dia de casamento, a usar a coroa das noivas. Durante a cerimónia de casamento ortodoxa, as coroas eram erguidas sobre as cabeças do casal, normalmente pelos parentes masculinos mais jovens. Colocando o seu início turbulento para trás, Isabel e Constantino começaram felizes a vida de casados. Ele chamava-a 'Lilinka'. Um mês depois do casamento, Constantino disse ao pai que "Ela já nos pertence." 



Os Vladimirovich: A grã-duquesa Maria Pavlovna e o marido com os filhos em 1884. As crianças são, da esquerda para a direita, Boris, Helena, Cyril e André.


Isabel de Hesse hesitou durante mais de um ano antes de aceitar o pedido de casamento do grão-duque Sérgio Alexandrovich que conhecia desde criança. Ele também estava hesitante, mas os dois ficaram noivos em Setembro de 1883. O pai de Isabel disse numa carta a Alexandre III: "Não hesitei antes de dar o meu consentimento porque conheço o Sérgio desde criança. Vejo que tem modos simpáticos e agradáveis e sei que fará a minha filha feliz". As cartas privadas que começam agora a surgir mostram que o casamento não foi o longo martírio que muitos descreveram. Essa ideia surgiu, acima de tudo, devido aos boatos da corte e das memórias do grão-duque Alexandre Mikhailovich que odiava Sérgio. 

Sérgio era um homem profundamente religioso que não escondia o seu gosto pela sociedade elegante, e fez muitos inimigos. "Muitas vezes era inseguro", recordou o grão-duque Ernesto Luís, irmão de Isabel."Isso fazia com que a sua postura endurecesse e os seus olhos pareciam severos (...) por isso as pessoas ficaram com uma impressão errada dele e achavam-no orgulhoso e frio, algo que ele certamente não era. Houve muitas, bastantes pessoas que ele ajudou, mas apenas o fazia no mais profundo sigilo."

"O Sérgio é uma pessoa," escreveu Isabel numa carta ao pai, "que quanto mais tempo passa com alguém, mais essa pessoa gosta dele (...)"


A grã-duquesa Isabel Feodorovna e o grão-duque Sérgio Alexandrovich em Darmstadt, cerca de 1889. Esta fotografia conta muito de um casal que ficou lado-a-lado durante mais de vinte anos, sem se preocupar com o que as pessoas diziam sobre eles. "As pessoas vão arranjar intrigas e mentir enquanto o mundo existir," escreveu Isabel numa carta à sua avó Vitória em 1896, "e nós não somos os primeiros nem vamos ser os últimos a ser caluniados." A relação aprofundou-se em 1891 quando Isabel decidiu converter-se à religião ortodoxa, tendo inicialmente preferido manter a sua religião luterana. Tal como para o grão-duque Constantino Constantinovich, esta decisão tinha sido difícil para Sérgio, mas não disse nada - "Foi um verdadeiro anjo da bondade  (...) nunca, nunca se queixou"- e a sua paciência foi recompensada. O facto de não terem filhos foi uma mágoa permanente que o casal partilhou e parece que ambos sabiam que a situação seria assim para sempre. Outros membros da família também o sabiam. "Coitados do Sérgio e da Ella", escreveu Alexandre III numa carta à esposa na primavera de 1892 "(...) por lhes ser negada esta bênção o resto da vida."


Desde a infância que Sérgio era muito chegado ao seu irmão mais novo, o grão-duque Paulo Alexandrovich, ao ponto de o levar consigo na sua lua-de-mel. Vítima de doenças pulmonares frequentes, Paulo passava os invernos na Grécia com a sua prima, a grã-duquesa Olga Constantinovna, e a sua família, e foi assim que encontrou a sua noiva. A princesa Alexandra da Grécia, filha de Olga, que se tornou a grã-duquesa Alexandra Georgievna após o seu casamento em Junho de 1889, não era uma desconhecida na Rússia, nem da família imperial devido às visitas da mãe à Rússia e à família do pai na Dinamarca que também a conhecia desde que tinha nascido. Também era ortodoxa, por isso a sua mudança para norte para se casar com Paulo não foi uma grande agitação, apesar de ter sentido a falta do clima grego.


Isabel Feodorovna e Alexandra Georgievna tornaram-se quase irmãs, criando uma relação semelhante aquela que existia entre os maridos desde sempre. O criado-de-quarto de Paulo, Alexei Volkov, descreveu desta forma os primeiros tempos de casamento do patrão: "Os recém-casados mudaram-se para o seu palácio no talude do Neva, atrás da Igreja da Anunciação e de frente para o quartel-general da marinha. A vida familiar deles seguiu tranquila e serena lá. A primeira filha (...) nasceu no palácio e os companheiros mais próximos e adorados do casal eram o grão-duque Sérgio Alexandrovich e a sua esposa, a grã-duquesa Isabel Feodorovna."


A grã-duquesa Alexandra Georgievna com a sua filha Maria Pavlovna que nasceu no dia 6/18 de Abril de 1890 e foi baptizada um mês depois, tendo a czarina Maria Feodorovna e o grão-duque Sérgio como padrinhos.


Alexandra em 1891 com a sua mãe, a grã-duquesa Olga Constantinovna, a sua avó, a grã-duquesa Alexandra Iosifovna e a sua filha Maria.

Texto retirado do livro "The Camera and the Tsars" de Charlotte Zeepvat

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