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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Reacção do Grão-duque Paulo Alexandrovich à morte de Rasputine


O Grão-duque Paulo Alexandrovich, era o filho mais novo do czar Alexandre II e, por isso, tio de Nicolau II, o único que ainda vivia durante a Primeira Guerra Mundial. Depois de ficar viúvo da Princesa Alexandra da Grécia e da Dinamarca, de quem teve 2 filhos, conheceu uma plebéia divorciada que, mais tarde, se tornaria na Princesa Olga Paley. Os dois fugiram da Rússia pouco depois do nascimento do seu primeiro filho em comum e casaram-se em segredo, na Itália, em 1902, o que fez com que Paulo perdesse os seus títulos e postos militares. Com Olga teve 3 filhos. Acabaria por receber perdão imperial em 1912, regressando ao seu país natal, onde passou a viver permanentemente na Primavera de 1914. Dmitri Pavlovich, filho do seu primeiro casamento, foi um dos acusados do assassinato de Rasputine.

Este relato foi escrito por Maurice Paléologue, embaixador francês na Rússia.


Terça-feira, 23 de Janeiro de 1917

Jantei em Czarskoe Selo com a família do Grão-duque Paulo Alexandrovich.

Quando nos levantamos da mesa, o Grão-duque levou-me para uma sala distante para que pudessemos ter uma conversa de homem para homem. Confiou-me todas as suas dores e ansiedades.

“O Imperador está mais na mão da Imperatriz do que nunca. Ela conseguiu convencê-lo de que os movimentos hostis que têm surgido contra ela – e que estão a começar a virar-se contra ele, infelizmente – não são nada mais do que uma conspiração dos Grão-duques e uma revolta de salas-de-estar. Isto só pode acabar em tragédia. Sabe qual é a minha crença na monarquia, e para mim o Imperador representa tudo o que é sagrado. Deve-se ter apercebido que sofro com tudo o que está a acontecer e pelo que está para vir.”

Pela sua emoção e pelo tom das suas palavras pude ver que ele está muito preocupado com o seu filho Dmitri que se tinha envolvido no drama. Proceguiu, impulsivamente:

“Não é terrível que, por toda a Rússia, estejam a acender velas junto ao ícone de São Dmitri e o meu filho esteja a ser chamado do libertino da Rússia?”

A noção de que o filho dele poderia ser proclamado czar a qualquer altura não parece ter-lhe subido à cabeça. Ele é o que sempre foi, o paradigma da liberdade e da boa-educação.

Depois contou-me que quando ouviu em Mohilev sobre o assassinato de Rasputine, regressou imediatamente a Czarskoe Selo.

Quando chegou à estação ao final do dia 31 de Dezembro, tinha a Princesa Paley à espera dele na estação e foi ela que lhe disse que o Dmitri tinha sido preso no seu palácio em Petrogrado. Ele pediu imediatamente uma reunião com o Imperador, que consentiu em recebê-lo às onze nessa mesma noite, mas “apenas por cinco minutos,” uma vez que tinha muito para fazer.

Quando foi arrastado apressadamente para o gabinete do seu sobrinho, o Grão-duque Paulo protestou vivamente contra a prisão do seu filho:

“Ninguém tem o direito de prender um Grão-duque sem um mandato formal teu. Por favor liberta-o… certamente não tens medo que ele fuja, pois não?”

O Imperador fugiu a respostas concretas e pôs um ponto final na conversa.

Na manhã seguinte, o Grão-duque Paulo foi a Petrogrado para ver o seu filho. Perguntou-lhe:

“Mataste o Rasputine?”

“Não.”

“Estás pronto para jurar isso sob o ícone sagrado da virgem e uma fotografia da tua mãe?”

“Sim.”

O Grão-duque Paulo entregou-lhe depois o ícone da virgem e uma fotografia da falecida Grã-duquesa Alexandra:

“Agora: jura que não mataste o Rasputine.”

“Juro.”

Enquanto me contava este episódio, o Grão-duque foi verdadeiramente nobre, sincero e digno. Terminou com estas palavras:

“Não sei mais nada sobre a tragédia. Não quis saber mais nada.”

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